Anais IV EPEA

IV Encontro de Pesquisa em Educação Ambiental

Questões epistemológicas contemporâneas: o debate modernidade e pós-modernidade

Apresentação

A história dos Encontros de Pesquisa em Educação Ambiental (EPEA) – realizados em 2001, 2003 e 2005 –, a resposta da comunidade científica do país envolvida com a pesquisa em educação ambiental e a experiência acumulada pelos grupos de pesquisa que realizam investigação nessa área nas diferentes regiões do país oferecem elementos motivadores para a proposição do IV EPEA.

As primeiras questões que orientaram a organização do I EPEA, em 2001, continuam presentes. São questões que acompanham a história desses eventos e que vêm se constituindo como um “programa de pesquisa” que desafia não apenas a comissão organizadora, mas também a todos aqueles que têm interesse em delinear o “estado da arte” da pesquisa em educação ambiental, na tentativa de construção contínua de respostas, nunca definitivas e acabadas. No entanto, somam-se a elas outras tantas que as experiências com o II e o III EPEA suscitaram, além de imposições colocadas pelo processo de construção do conhecimento científico, em especial na área da educação.

Nesse sentido, as análises dos trabalhos do I EPEA revelam indícios de que o debate modernidade/pós-modernidade, construído, principalmente ao longo da década de 90, nos vários campos da produção científica, seria também significativo para o campo da pesquisa em educação ambiental. Dessa forma, as tentativas de identificar “tendências e perspectivas da pesquisa em educação ambiental” (I EPEA), de discutir os pressupostos teórico-metodológicos presentes nas pesquisas em EA (II EPEA) e de tentar mapear as “práticas de educação ambiental no Brasil” (III EPEA) nos motivam a propor para o IV EPEA uma reflexão que tenha como ponto de partida questões epistemológicas contemporâneas, procurando assim tomar o debate modernidade/pós-modernidade como orientador das discussões propostas para as conferências e mesas-redondas do evento.

A polêmica que se estabeleceu entre modernidade e pós-modernidade, sobretudo a partir da idéia de que esta última se configuraria como uma nova fase da história que superaria, de maneira definitiva, a modernidade, trouxe implicações teóricas para diversas áreas do conhecimento, particularmente para o campo da filosofia e da epistemologia. Também a educação e a educação ambiental têm sido marcadas por essa polêmica.

A intenção, portanto, deste IV Encontro é a de aprofundar o debate sobre pressupostos epistemológicos inerentes à investigação do processo educativo, de maneira geral, e sobre aqueles relacionados com a temática ambiental, de modo particular. É a partir dessa perspectiva que se definem os objetivos do IV Encontro de Pesquisa em Educação Ambiental: “Questões Epistemológicas Contemporâneas – o debate modernidade e pós-modernidade”, a saber:

- discutir, analisar e divulgar trabalhos de pesquisa em Educação Ambiental;

- aprofundar as discussões sobre as abordagens epistemológicas e metodológicas em Educação Ambiental que vêm sendo desenvolvidas nos Encontros de Pesquisa em Educação Ambiental;

- identificar e analisar tendências epistemológicas contemporâneas nas práticas de pesquisa em Educação Ambiental que vêm sendo desenvolvidas no âmbito dos programas de pós-graduação e em outros espaços institucionais e não institucionais, com destaque para os aspectos relacionados ao debate modernidade/pós-modernidade.

Se o ideário ambientalista tem na sua origem e na sua consolidação a crítica à modernidade, parece-nos de fundamental importância evitar o risco de, na aceitação ingênua e/ou aligeirada dessa crítica, reforçar mais um consenso aparente, entre outros que têm sido produzidos no interior das perspectivas ambientalistas.

É a partir dessa crítica que devemos nos envolver no debate e nos situar em uma gama de possibilidades que vai desde um niilismo cultural e ético-radical à defesa incondicional da tradição moderna e da razão utilitária a qualquer custo. Não se trata de buscar uma produção de conhecimento que ilumine opções definitivas e acabadas por uma ou outra posição desse debate, mas sim, como educadores que se pautam nas próprias buscas pela compreensão do processo educativo relacionado à temática ambiental, construir orientações para as nossas práticas educativas. No entanto, parece-nos importante que, independente das opções epistemológicas e metodológicas adotadas para as nossas pesquisas e para as propostas educativas, não abandonemos as tentativas de compreender os imponderáveis “mistérios da natureza”, os significados que a ela atribuímos, histórica e coletivamente, como sociedade, e a possibilidade de, no âmbito da educação, alterar rotas que respondem a interesses que não o da valorização da vida.

Nesse sentido, torna-se importante que não abandonemos a perspectiva da construção de um mundo mais solidário, cooperativo, com base em projetos educativos, éticos e políticos nos quais a “multiplicidade das vozes culturais” tenha lugar, a complexidade do real seja reconhecida e o diálogo de saberes percebido como princípio metodológico para a construção de conhecimentos e para a ação.

Esperamos que as reflexões realizadas por meio das conferências e mesas-redondas, dos grupos de pesquisas temáticas e das comunicações de pesquisas previstas na programação do IV EPEA possam contribuir para o aprofundamento desse debate.